Para fazer o trabalho de argumentação proposto para este terceiro período, escolhi um excerto de um livro que pertence a um dos meus escritores portugueses preferidos.
Apresento-vos, então, A Vida no Campo, um diário de Joel Neto, que dá conta da vida do autor, na sua casa, Lugar dos Dois Caminhos, na Terra Chã, na ilha Terceira.
Escolhi apresentar-vos este livro, pois achei-o muito divertido de ler, na medida em que ia reconhecendo muitos lugares (e mesmo pessoas), em virtude dos meus anos de trabalho na ilha lilás.
Fica a sugestão de leitura, já que é um livro fácil de ler, pois, por ser um diário, não tem continuidade narrativa.
Por outro lado, acho que vocês também se iam divertir muito a ler este diário, pois, tal como eu, de certo modo, iam rever-se nestas palavras tão açorianas.
Vou ler-vos, então, um excerto da entrada do dia 29 de março, que é o dia do meu aniversário. Vou confessar-vos que foi esta a primeira página do livro que li. Imediatamente após sair da livraria Bertrand, no Parque Atlântico, abri o livro para saber se o Joel tinha escrito alguma coisa no meu dia. E tinha!
Leitura do excerto (página 124)
"Na Graciosa há Adalgiras, Anatazitas e Assuínos, Basilissas, Belmas e Brivaldos. Pais chamaram às filhas Calmerina, Cisbélia ou Crispolina e avós passearam na rua netos com nomes como Dalva, Dénio ou Dilermando.
E não só. Na onomástica graciosense – o Vítor Rui Dores andou a fazer uma recolha –, existe Eldar, Eutímio e Ezulina, assim como Felicíssimo, Firmilindo e Florgêncio; existe Gabínio, Gibela e Gudeberta, do mesmo modo que Hercina, Hirma e Higénio.
Algumas pessoas chamam-se Iglantina, Iraílda ou Irzelindo e outras Jacímia, Jovina ou Jurelma. Leobertos, Lernos e Lourinas cruzam-se na rua com Nectários, Neogénios e Nunados, enquanto Obulinas, Orfílias e Ovinas – sim, Ovinas – andaram na escola com Parménios, Polígenas e Porfírias.
Quelmindas e Rosindos. Senhorinhas e Sensitivas. Tomazinhas e Ulurinas – há de tudo. Unerinas. Urbínias. Venerandas. Viminas. Fica o catálogo para as grávidas de todo o país.
Naturalmente, Assuíno e Higénio só aconteceram porque o funcionário do registo tinha acabado de chegar do almoço. Mas eu, percebendo de onde vem “Higénio”, nem quero imaginar o que pretendiam chamar ao Assuíno.
Isto põe bem em perspetiva a falta de criatividade dos nossos pais. Carlas, Sandras e Sónias não eram grandes soluções, mas sempre passam melhor do que Telestinas, Neogénios ou Odeltas.
De resto, prefiro-os a todos, os nossos, os dos nossos pais e os da Graciosa, a esta profusão de Igores e Jéssicas que agora anda aí."
Como puderam ouvir, este excerto refere nomes de pessoas «estranhos», segundo Joel Neto, e comuns na ilha Graciosa.
Achei particularmente piada a este excerto e fez-me logo lembrar um episódio que tive numa escola da ilha Terceira. Na primeira aula lecionada a uma turma de 7.º ano, li os nomes dos alunos pela pauta de chamada. Coitada da aluna «Coléte» a quem chamei «colete», como se de uma peça de vestuário se tratasse.
Depois, achei admirável o trabalho de pesquisa do escritor relativamente à onomástica graciosense e fez-me questionar se, de facto, ele conhece alguém realmente com algum daqueles nomes.
Também fiquei agradada com a possibilidade de enriquecer o meu léxico a esse nível. Nunca pensei que houvesse nomes assim tão «estranhos», alguns mesmo difíceis de dizer.
Fez-me, também, pensar em nunca dar um nome destes a um filho meu!
Por último, fez-me gostar ainda mais do meu nome, da sonoridade bonita daquelas quatro letras juntas. É um nome fácil de pronunciar ao qual se alia um belo significado. «Casta» ou «pura» parecem-me excelentes qualidades.
Termino a apresentação deste livro informando-vos que estará em cena, no Teatro Micaelense, ( https://www.teatromicaelense.pt/agenda/2019-05-11/a-vida-no-campo/ ) em Ponta Delgada, no dia 11 de maio, uma peça de teatro com base neste interessantíssimo livro!
Encontramo-nos lá?
Professora Maria Inês Marcelino
Para saber mais sobre Joel Neto:
https://www.joelneto.com/
https://www.joelneto.com/
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