2023/03/14

Celebrar Natália Correia - Biblioteca Escolar

 

"Celebrar Natália Correia"

A Biblioteca Escolar está a comemorar o centenário do nascimento de Natália Correia, um dos maiores vultos da literatura portuguesa. Para tal e para além de inúmeras outras atividades, foi dinamizada uma aula aberta em que foram oradores José Andrade, Diretor Regional das Comunidades, e a poetisa Eleonora Marino Duarte. 

Para abrilhantar ainda mais o evento, as professoras Ana Medeiros e Telma Bernardes interpretaram dois poemas musicados de Natália Correia. 

Para finalizar, os alunos do curso Empregado Restaurante-Bar da turma 8ºFPB3 executaram um serviço de coffee break.

 Transcrição da aula aberta, dada pelo Sr. Diretor Regional das Comunidades, José Andrade, sobre a vida e a obra de Natália Correia, no centenário do seu nascimento:

“Era uma vez uma menina chamada Natália.

Natália de Oliveira Correia.

Nasceu no arquipélago dos Açores, na ilha de São Miguel, no concelho de Ponta Delgada, na freguesia da Fajã de Baixo, na Rua Direita, no atual edifício da Casa do Povo.

No dia 13 de setembro de 1923. Há 100 anos.

Quando tinha 11 anos apenas, o seu pai emigra para o Brasil e ela vai viver para Lisboa, com a mãe e a irmã.

Faz os seus estudos no Liceu D. Filipa de Lencastre.

Inicia-se na literatura com a publicação de uma obra destinada ao público infanto-juvenill, mas rapidamente se afirma como poetisa. 

O seu primeiro livro de poesia chama-se Rio de Nuvens e é publicado em 1947.

Seguem-se duas dezenas de obras poéticas, até 1993, com O Sol nas Nuvens e o Luar nos Dias.

Mas Natália Correia notabiliza-se através de diferentes géneros de escrita.

Foi poeta, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora.

Publicou seis obras de ficção, desde o conto infantil Grandes Aventuras de um Pequeno Herói, em 1945, até ao romance As Núpcias, em 1992.

Publicou, também, um livro de literatura de viagens, intitulado Descobri que era europeia: impressões duma viagem à América, em 1951, e um livro em forma de diário, chamado Não percas a rosa, em 1978.

Publicou, ainda, sete obras de teatro, incluindo a peça Erros meus, má fortuna, amor ardente, em 1981, e cinco livros de ensaio, como, por exemplo, Somos todos Hispanos, em 1988.

A sua bibliografia, traduzida em várias línguas, inclui igualmente uma dezena de antologias, a começar pela Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica: dos cancioneiros medievais à atualidade, publicada em 1965.

Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação desta obra, considerada ofensiva dos costumes da época.

Natália tinha um invulgar talento oratório e uma grande coragem combativa.

Tomou parte ativa nos movimentos de oposição à ditadura do Estado Novo.

Apoiou as candidaturas à Presidência da República dos oposicionistas Norton de Matos (1949) e Humberto Delgado (1958).

Participou no Movimento de Unidade Democrática (1945) e na Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (1969).

O impacto público da sua intervenção política levou-a à Assembleia da República, depois da revolução democrática de 25 de abril de 1974.

Foi eleita deputada em 1980, nas listas do PSD – Partido Social Democrata, de Francisco Sá Carneiro, mas passaria a deputada independente durante a legislatura em protesto contra o conservadorismo.

Voltaria a ser deputada em 1987, agora pelo PRD – Partido Renovador Democrático, de António Ramalho Eanes.

Entretanto, em 1971, fundou o bar Botequim, que reunia boa parte da intelectualidade portuguesa nas noites lisboetas das décadas de 70 e 80.

Era amiga de David Mourão-Ferreira, Almada Negreiros, Mário Cesariny, Ary dos Santos ou Amália Rodrigues, que muito lhe elogiavam a beleza física e a determinação pessoal.

Casou quatro vezes, mais significativamente com o empresário Alfredo Machado e com o cineasta Dórdio Guimarães.

Foi condecorada como Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada em 1981 e recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, pelo livro Sonetos Românticos, em 1991.

Em 1992, com outros escritores como José Saramago e Urbano Tavares Rodrigues, fundou a Frente Nacional para a Defesa da Cultura.

Na madrugada de 16 de março de 1993, morreu, subitamente, com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de regressar do Botequim.

Tinha 70 anos de idade.

Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, e trasladada para a ilha de São Miguel, em 2015.

Tem uma biblioteca com o seu nome em Lisboa e uma avenida com o seu nome em Ponta Delgada.

Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores, que lhe dedica uma exposição permanente na Biblioteca Pública de Ponta Delgada.

Natália Correia é a autora da letra do hino da Região Autónoma dos Açores.

Com ela e por ela, “deram frutos a fé e a firmeza num esplendor de um cântico novo”, porque “os Açores são a nossa certeza de traçar a glória de um povo”.”



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